A busca pela Verdade na modernidade: Um convite à reflexão

Peregrinus
4 min readJul 20, 2023

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Daí a necessidade, para o trabalho intelectual, do silêncio de alma e de exclusão ou superação de nossas paixões desordenadas, de pensamentos tolos e das distrações do mundo. Só assim podemos submeter-nos ao veredicto da Verdade.

A aparente inexpressividade de um sujeito pode ser erroneamente interpretada como indiferença, pois é capaz que o mesmo, a fim de evitar conflitos interpessoais, beneficiar-se do silêncio como um artifício de valiosa sabedoria. Por outro lado, a suposta taciturnidade dissimula um esmorecimento imensurável. Tais nuances caracterizam parcialmente um sujeito passivo.

Em relação ao executante, o orgulho usufrui de uma máscara para rebuçar um sentimento de compunção existente: “Ou você muda de verdade ou te considerarei o maior fracasso da minha vida” foi sua sentença mais marcante. O terror psicológico foi devidamente instaurado. Nesta circunstância de extremo desgaste, alegadamente, no entendimento do réu, é válido exortar uma reação desmedida do adversário para justificar o controle da situação, independente do método empregado.

O entrelaçado do estudo desvencilha-se na linha tênue entre Verdade e adequação mercadológica, cujo real significado foi desvirtuado ao longo dos séculos. A reflexão sobre essa intersecção é essencial para resgatar o sentido original do conhecimento e da busca pela Verdade em meio ao detrimento promovido pela modernidade.

No decorrer da história da humanidade, a ideia de estudo renova-se conforme as necessidades da sociedade e do avanço do conhecimento vigente. Durante a Era Clássica, em especial na Grécia Antiga, os filósofos perscrutaram intrinsecamente a Verdade. Associava-se o conhecimento à jornada em busca do absoluto, transcendental e objetivo. As artes liberais, como a lógica, a gramática e a retórica, eram consideradas basilares para o desenvolvimento do indivíduo e de um senso crítico formidável até os dias atuais.

Com o estabelecimento da modernidade, o estudo expandiu-se a novos horizontes. Ao invés da valorização da Verdade, passa-se a contemplar a aplicação prática do conhecimento. Em outras palavras, o estudo foi descaracterizado para uma mera ferramenta de aprimoramento pessoal e sucesso profissional. Dentre suas consequências, novas áreas de estudo surgiram, ampliando o escopo de possibilidades ao engendrar as conhecidas ciências naturais, sociais e humanas.

Já na hodiernidade, a erudição carrega ainda mais adversidades. A influência da modernidade mercadológica tornou-se mais irreverente. Para a escolha de uma área de atuação, deve-se considerar substancialmente as demandas e tendências do mercado de trabalho. A busca pela Verdade, tão imprescindível no decurso da Era Antiga, foi completamente obliterada pela busca desenfreada do lucro e valor social.

Categoricamente expresso, o mercado anseia pela rapidez da formação proporcionada pelo tecnicismo, ocasionando em um baixíssimo senso crítico e falta de capacidade de pensar por si; apenas aplicam-se fórmulas já concebidas e não questiona-se, melhora-se ou cria-se algo a partir do zero. De acordo com a Suma Gramatical da Língua Portuguesa, do professor Carlos Nougué, caso a gramática não seja baseada em regras advindas da Educação Clássica, de cunhos lógico, filosófico e até metafísico, o que será da nossa interpretação acerca da realidade? A própria infelizmente responde a este questionamento.

Não houve evolução mas sim distorção dos conceitos de conhecimento e Verdade. O que era outrora o fim, agora é um meio para alçar conquistas materiais. Tal finalidade foi gradativamente falseada pelas pressões do mundo moderno, cuja viabilidade mercadológica e o sucesso financeiro frequentemente se justapõem à verossímil busca por sabedoria e entendimento. Ou seja: torna-se uma ferramenta utilitária utilizada exclusivamente para garantir a empregabilidade e o progresso econômico — e nada mais.

O conhecimento é instrumentalizado e a Verdade é submetida a interesses práticos e imediatos. Tal permuta de perspectiva compromete o propósito mais profundo do estudo, e coloca em risco a capacidade do ser humano de compreender o mundo e a si em sua totalidade. Não obstante, independente dos reveses atribuídos à contemporaneidade, deve-se enfatizar que a verdadeira evolução não se trata dos avanços técnico-científicos e conquistas materiais, mas da busca incessante pela Verdade e pelo conhecimento, os quais transcendem o superficial e concatenam com a essência do ser humano. A ciência sem a fé se torna arrogância; a , sem o apoio também do conhecimento científico, torna-se ignorância e fanatismo. A duas devem andar juntas; as duas devem, cada uma respeitar o que é do próprio campo.

O que foi perdido ao longo dos séculos? Para os gregos e católicos, entender o Belo e o Eterno era elementar para refletir a questão da nossa origem. Atribuir o dito progresso ao capitalismo e ao liberalismo é uma falácia reiterada à exaustão. Inevitavelmente tais avanços aconteceriam, entretanto, sem a necessidade de subverter a moralidade para tal fim. A revelação está sempre a disposição de quem se fizer pequeno. Quem tiver a coragem de se fazer pequeno terá acesso às grandezas de Deus e, também será grande, porque Deus o terá exaltado.

A Verdade remete-nos ao espírito, ao transcendental, às leis eternas e à redenção das almas. O prisma mercadológico é fundamental para assegurar a perpetuação de nossa família em vida, mas não ao eterno. A verdadeira sabedoria é merecida através da humildade, pois Deus revela os seus mistérios àqueles que, com simplicidade, se portam como filhos d’Ele. Consolidemos como nosso propósito suprassumo a dignidade de alcançar a vida eterna ao lado do Redentor.

Música recomendada: a visionária e singular Cosmic do Avenged Sevenfold.

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Written by Peregrinus

Escrevo sobre filosofia, psicologia e física. Esporadicamente umas pitadas de astronomia, minha vida em parábolas e alegorias propositalmente ambíguas.

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