Máscara social: A normalização do alter ego

Kauê
4 min readSep 16, 2023

Implorei por inspiração e foi-me concedida informação. Comuns em nossa consciência, inevitáveis de uma perspectiva utilitarista, questionáveis pela respeitável perspectiva da ética. Sua aceitação, finalidade e normalidade determinarão o destino da humanidade.

As chamadas máscaras sociais são uma das variáveis mais temerárias do algoritmo humano. Em termos psicológicos, referem-se às personas as quais os indivíduos desenvolvem e projetam versões simuladas ou parciais de si em contextos sociais específicos.

Tais máscaras visam esconder aspectos da personalidade para adaptar seus senhorios às normas sociais ou cumprir determinados objetivos. Alguns exemplos são sutis e aparentemente inofensivos, como a expressão de um sorriso forçado em uma reunião de trabalho; outros são mais dramáticos, como a incumbência de uma pessoa extrovertida, que é desempenhada por alguém que é naturalmente introvertido.

Podendo ser empregadas sob uma variedade de pretextos, as máscaras sociais refletem uma capacidade de manipulação reativa, e são capazes de beneficiarem-se de atributos naturalmente destacáveis — por exemplo, uma camada externa de simpatia e amabilidade. Outros, contudo, também podem carregar alguns reveses, mesmo presumivelmente positivos. Uma aura de formalidade e profissionalismo no trabalho gera alguma invídia, e uma personalidade mais descontraída e informal com amigos pode expor intimidades impertinentes ou provocar uma exposição pessoal exagerada, mas enganar a soberba com um revestimento de humildade funciona por um prazo momentâneo. Portanto, manuseie este mecanismo com uma dose de sabedoria.

A arte de integrar-se naturalmente a uma nova esfera social, antes desconhecida, é apreciável. A facilidade de obter informações, de ouvir atentamente e oportunizar outros com amparo, pedirem ajuda ou relatarem seus problemas cotidianos é uma característica demasiadamente irrepreensível. Todavia, momentos de solitude ainda são bastante aprazíveis e, sobretudo, não deseja-se inserir o desprazer da inconveniência. Mesmo que não se esteja em sintonia, jamais interromperá algo tão custoso de edificar. Tudo tem seu timing e durante a introspecção não é diferente.

Autopreservação é um recurso interessante, seja para proteger-se emocionalmente, evitar julgamentos ou simplesmente preservar traços considerados vulneráveis. O perfil de evitar exposição desnecessária e revelar-se somente àqueles mais confiáveis é estimável. Aliás, todos deveriam optar por esse padrão. Se o corpo realmente é um templo, resguardá-lo em conjunto à alma é uma cláusula pétrea. Desenvolva e abrace a virtude da temperança como uma velha amiga pois esta será fundamental para permitir o acesso à eternidade.

Um ponto vital a ser advertido é a habilidade de manipulação e persuasão. Nosso caráter deve ser íntegro e rejeitar quaisquer ensejos de obter vantagem injustamente é um múnus. Compenetrar alguém a condescender algo prejudicial não é apenas antiquado mas hediondo. Se tens aptidão para encorajar o certo ou desistir quando tempestivo, por que não usufruir desta mesma influência para o bem maior?

A verdade malquista é não podermos ser quem realmente somos. A probabilidade de vicissitudes, ou seja, de colocarmos em xeque nossa integridade ao assumirmos uma faceta verdadeira porém consideravelmente desprazível somente é recomendada em ambientes seguros, somente na companhia de si ou com àqueles que gozam de sincrética confiança do indivíduo. A sinceridade no mundo moderno é classificada como ofensiva e o consenso tornou-se melindroso.

A propósito, a perfídia foi normalizada no ambiente virtual. Amizades e relacionamentos são descartados como algo de valor supérfluo e, supostamente, podem ser substituídos com facilidade. Certamente confiança e perdão continuam irrestituíveis sem corolários. Uma vez quebrada, jamais voltará a ser como outrora.

O principal contratempo justifica-se no perder-se. Múltiplas máscaras, quando postas em excesso, desfiguram a essência da própria personalidade; o sentir do irreal acomete um vazio no inconsciente. Crises de identidade, ainda que por motivos verossímeis, o atormentam sob o espectro de metanoia, pois conhecem verdadeiramente o seu próprio ser. Seria o indivíduo ainda capaz de responder uma simples pergunta sobre quem é?

Assim como qualquer artifício, deve-se lidar com moralidade e inteligência pois o potencial para lesar outros, se utilizadas de maneira empedernida, os danos podem ser incomensuráveis. Como a vida é uma via de duplo sentido, hoje é o transgressor, amanhã poderá ser a vítima. Seja o exemplo. Não há preço estimável por fazer o bem, a diferença na vida de alguém ou der agraciado pela consciência exultante na perpetuidade.

As máscaras sociais são ferramentas controversas da interação humana e podem atender a determinados fins. Podem ser utilizadas para se adaptar a diferentes situações, seja para autoproteção ou influenciar. Entretanto, é estritamente imprescindível uma consciência equilibrada e saudável, utilizar somente quando necessário e, deve-se ter almejar fazer jus do livre arbítrio para o bem.

Música recomendada: a interessante e enigmática Baile das Máscaras do Rosa de Saron.

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Kauê

Escrevo sobre filosofia, psicologia e física. Esporadicamente umas pitadas de astronomia, minha vida em parábolas e alegorias propositalmente ambíguas.